DEFINIÇÃO DE TROVA - colaboração de Ricardo Vichinsky - via Recanto das Letras

Recebi, por email, essa colaboração e repasso em meu blog, para os leitores terem uma noção (aqueles que ainda não o sabem) ou para complementarem com novas colaborações desse tipo.


Milena Medeiros


["Uma amiga do Recanto das Letras, muito atenciosa, me passou esse email, eu achei legal e resolvi compartilhar espero que de alguma forma venha a contribuir a ajudar, afinal aprendemos todos os dias . E pior eu que nada sei, percebo que meu caminho é longo e árduo, mas um dia ainda aprendo essa tal de poesia 
abraços. (Ricardo Vichinsky)"]


 
DEFINIÇÃO DA TROVA

A Trova é uma composição poética, ou seja, uma poesia que deve obedecer as seguintes características:

1- Ser uma quadra. Ter quatro versos. 
Em poesia cada linha é denominada verso.

2- Cada verso deve ter sete sílabas poéticas. 
Cada verso deve ser setessilábico. As sílabas são contadas pelo som.

3- Ter sentido completo e independente. 
O autor da Trova deve colocar nos quatro versos toda a sua idéia. 

A Trova difere dos versos da Literatura de Cordel, onde em quadra ou sextilhas, o autor conta uma história que no final soma mais de cem versos ou seja, linhas. 

A Trova possui apenas 4 versos, ou seja, 4 linhas.

4- Ter rima. A rima poderá ser do primeiro verso com o terceiro e o segundo com o quarto, no esquema ABAB, ou ainda, somente do segundo com o quarto, no esquema ABCB. 

Existem Trovas também nos esquemas de rimas ABBA e AABB.

Segundo o escritor Jorge Amado:
"Não pode haver criação literária mais popular e que mais fale diretamente ao coração do povo do que a Trova. É através dela que o povo toma contato com a poesia e por isto mesmo a Trova e o Trovador são imortais"

Todo Trovador é poeta, mas nem todo poeta é trovador. 

Nem todos poetas sabem metrificar, fazer o verso medido.

Poeta para ser Poeta precisa saber metrificação, saber contar o verso. Se não souber o que é escansão , ou seja, medir o verso, não é Poeta.

Eis alguns exemplos de Trovas:

Nesta casa tão singela
Onde mora um Trovador
É a mulher que manda nela
Porém nos dois manda o amor.
(Clério José Borges)

Ficou pronta a criação
Sem um defeito sequer,
E atingiu a perfeição
Quando Deus fez a mulher.
(Eva Reis)

Um pouco sobre a métrica

Métrica é a arte que ensina os elementos necessários à feitura de versos medidos. 

A métrica é obtida pela contagem das sílabas e o ritmo pelas cesuras. 

Você sabe metrificar e ritmar?

Uma regra

A última sílaba que se conta é a tônica da última palavra. Ex: 7 Sílabas:
Eu vi mi-nha mãe re-zan-do
Aos pés da Vir-gem Ma-ri-a
E-ra u-ma San-ta es-cu-tan-do
O que ou-tra San-ta di-zi-a
Outra regra

Quando uma palavra termina por vogal átona e a seguinte começa por vogal ou ditongo, conta-se uma sílaba só. Diz-se que há embebimento de uma sílaba na outra. Ex:
Ou vin do a fa la ao ven to. (São 6 sílabas.)
Mais uma regra

Para atender à métrica, hiatos podem transformar-se em ditongos (Sinérese) e ditongos transformar-se em hiatos (Diérese) Ex:
Su-a-ve por Sua-ve (3 viram 2)
Sau-da-de por Sa-u-da-de (3 viram 4)
Cesuras

Não esqueça que o que dá ritmo à poesia são as cesuras. 

São as sílabas tônicas que devem existir obrigatoriamente no interior dos versos, quando tenham mais de sete sílabas.

Nos decassílabos Sáficos - 4ª - 8ª - 10ª - Ex
:

Ia Bar-sa-nul-fo pe-lo ver-de pra-do

Nos decassílabos Heróicos - 6ª - 10ª Ex:

Tra-ba-lho nas no-ve-las nun-ca ve-jo
E.T. 

O verso Alexandrino legítimo tem cesuras na 6ª e 12ª. 

Se tiver na 4ª, 8ª e 12ª. será um Dodecassílabo Quaternário. Não necessariamente um Alexandrino.

Trovas

A trova é uma composição poética de quatro versos de sete sílabas poéticas, que tem de ter rima no mínimo da 2ª com a 4ª linhas (versos). Preferível será rimar também a 1ª com a 3ª.

Encontra-se em trovas mais antigas rimas da 1ª com a 4ª e da 2ª com a 3ª. 
Há também 1ª com 2ª e 3ª com 4ª, além de outras, embora o tipo enunciado no primeiro parágrafo seja o mais usado atualmente.

A trova, para ser bem feita, tem de ter um ACHADO. 

Achado é algo diferente e que faça valer a pena ler a trova. 

Adelmar Tavares diz:
"Nem sempre com quatro versos
setissílabos, a gente
consegue fazer a trova;
faz quatro versos, somente"

No livro "Como Fazer Trovas e Versos", de Eno Teodoro Wanke, ele faz interessante observação a esse respeito.
Mostra a trova de um autor e a correção por outro trovador, dando-lhe mais qualidade.

Acompanhemos o exemplo:
Trova de João Cândido, publicada no ano de 1894: 
O filho do carpinteiro
foi um artista profundo
o que fez esse luzeiro ?
Fez um conserto no mundo. 
Raul Pederneiras (1874-1973), lá pelos idos de 1916, depois de tomar bons goles de vinho, saiu-se com esta: 
O filho do carpinteiro
foi um artista profundo:
com três cravos e um madeiro
fez a redenção do mundo ! 
Com apenas 28 sílabas temos a história do Cristianismo, mostrando o que ele significa. Outro exemplo: 
Tua boca todos sabem
é tão pequena e singela
que eu não sei como é que cabem
tantos beijos dentro dela. 
Na revisão, foi mudada
Tua boca é tão pequena
tão pequena e tão singela
que não sei como é que cabem
tantos beijos dentro dela. 
Rimou apenas a 2ª com a 4ª, mas ficou mais bonita e expressiva.

Nota:

Comece a trova sempre com letra maiúscula. A partir do segundo verso use letra minúscula, a menos que a pontuação indique o início de nova frase. Nesse caso, use a maiúscula novamente.

Aprenda a trovar fazendo poesia de qualidade

 
Trovismo: Movimento cultural em torno da Trova no Brasil, surgido a partir de 1950. A palavra foi criada pelo poeta e político falecido J. G. de Araújo Jorge. 

O escritor Eno Teodoro Wanke publica em 1978 o livro "O Trovismo", onde conta a história do movimento de 1950 em diante.

Neotrovismo: É a renovação do movimento em torno da Trova no Brasil. 
Surge em 1980, com a criação por Clério José Borges do Clube dos Trovadores Capixabas. 

Foram realizados 20 Seminários Nacionais da Trova no Espírito Santo e o Presidente Clério Borges já foi convidado e proferiu palestras no Brasil e no Uruguai. Em 1987 concedeu inclusive entrevista em Rede Nacional, no programa "Sem Censura" da TV Educativa do Rio de Janeiro.

O Trovador Literário é aquele que sabe fazer a Trova, imprimindo espontaneidade, graça, beleza e sabedoria, tal qual a cultivaram poetas brasileiros de renome, como Fernando Pessoa: 

"O poeta é um fingidor,
finge tão completamente,
que chega a fingir que é dor
a dor que deveras sente."

Olavo Bilac:

"Mulher de recursos fartos!
Como é que está impenitente,
tendo no corpo dois quartos,
dá pousada a tanta gente?"

Menotti Del Picchia:

"Saudade, perfume triste
de uma flor que não se vê.
Culto que ainda persiste
num crente que já não crê."

Mário de Andrade:

"Teu sorriso é um jardineiro,
meu coração é um jardim.
Saudade! Imenso canteiro
que eu trago dentro de mim."

Cecília Meireles:

"Os remos batem nas águas:
têm de ferir para andar.
As águas vão consentindo
- esse é o destino do mar."

Carlos Drumond de Andrade:

"Solidão, não te mereço,
pois que te consumo em vão.
Sabendo-te, embora, o preço,
calco teu ouro no chão."